terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Matéria do Jornal A Tarde

Capoeira como ponte para a arte do respeito ao outro
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O terreiro Xwe Vodun Zo, localizado no bairro da Liberdade, comemora mais uma conquista do seu projeto de capoeira. Ontem, 33 participantes do grupo subiram de grau na cerimônia que é conhecida como "batizado".
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Há 22 anos, o templo abriga o projeto voltado para crianças e adolescentes, com o apoio do Grupo de Capoeira Porto da Barra. O grupo Porto da Barra é coordenado pelo mestre Cabeludo, que acompanha as atividades desenvolvidas no terreiro.
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"Eu gosto de todos os elementos da capoeira", diz Taís Diniz, 13 anos, que há três meses participa do projeto. Moradora da Liberdade, Taís já fez balé e agora se tornou praticante de capoeira, atividade na qual ela já demonstra desenvoltura de veterana.
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Damana Figueiredo, 5 anos, começou a participar do projeto há pouco tempo, mas também já demonstra segurança no conhecimento da capoeira. "Já sei fazer o esporão", relata antes de dar uma demonstração de como se faz o movimento. Cultura - Os participantes do projeto são, em sua maioria, moradores da Liberdade e entorno. Além de aprender uma atividade física, os meninos são instruídos sobre a filosofia que permeia a capoeira, inclusive o respeito ao outro.
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"Aqui no Curuzu, não há nenhum tipo de área para lazer, e o terreiro tem sido um espaço que os meninos encontram sempre aberto com uma ampla área para se exercitar", explica o doté Amilton Costa, que ocupa o mais alto posto na hierarquia do terreiro que segue a tradição jeje.
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Embora o projeto tenha como sede uma instituição religiosa, doté Amilton explica que não há nenhum tipo de incentivo à conversão deles ao candomblé. "Desde que chegam aqui, os meninos são informados de que não se cobra deles nenhum tipo de envolvimento religioso. O terreiro é o espaço para as atividades. Eles não são obrigados a ser de candomblé. O que ensinamos a eles é que devem respeitar o candomblé como devem respeitar qualquer outra religião", completa o sacerdote.Esforço - Além disso, o projeto incentiva a freqüência à escola formal. As atividades, por exemplo, acontecem sempre num turno oposto ao que eles estudam e são organizadas de forma a não interferir nas atividades escolares, inclusive as tarefas extraclasse.
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O projeto não recebe nenhum tipo de apoio externo, mas é uma das atividades sociais mais antigas do terreiro. "Ao manter um projeto como esse, mesmo sem apoio nenhum, estamos conseguindo dar para estes meninos e meninas uma ocupação saudável no turno oposto ao que eles estão na escola", avalia doté Amilton.
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Evolução - Participantes do projeto, inclusive, já estão passando de alunos a instrutores de quem está chegando. É o caso de Renato da Silva, 18 anos, que auxilia na preparação dos novos capoeiristas. Ele foi convidado para participar num dia em que brincava na rua, sem ter tido nenhum tipo de contato anterior com a capoeira. Isso foi há três anos. "Aí cheguei aqui e comecei a treinar. Hoje já estou ajudando na instrução dos novos participantes", conta Renato, que considera a aprendizagem do toque do berimbau o elemento mais difícil da capoeira.
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"É difícil aprender, mas consegui", diz Renato, que já sabe qual curso escolher quando for prestar vestibular: música. Aos 18 anos, Josenan Assunção, chamado de Potó pelos outros participantes do projeto, é o instrutor das novas turmas.
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Potó conta que tem tios e irmãos mais velhos que cresceram no grupo de capoeira do Vodun Zo. "Há 12 anos cheguei aqui e aprendi muito", relata. Na capoeira, os graus de evolução vão de iniciante até mestre.
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Berimbau - Eles são demonstrados pelas formas com que são amarradas os cordões que os capoeiristas exibem na cintura. Os graus de aprendizagem englobam 15 cordas. Potó está agora na sexta, o que, de acordo com ele, lhe credencia para a função de instrutor. "O mais difícil foi aprender a tocar berimbau, pois é necessário saber os toques e os momentos em que eles vão mudando. Mas é muito bom praticar capoeira", acrescenta.
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Além de capoeira, os participantes do projeto aprendem outras modalidades culturais de matriz africana, como o maculelê e ritmos mais novos, como a dança break.

Fonte: Jornal A Tarde, 24/08/2008 (http://www.atarde.com.br/jornalatarde/salvador/noticia.jsf)

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