O Jogo (de empurra) da Capoeira em Camaçari?
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No próximo dia 29 de Agosto, o Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra estará realizando o IV Batizado e V Troca de Graduações no Projeto Social Crianças Cabeludas, na comunidade do Parque das Mangabas.
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Nosso projeto já é mais que conhecido em Camaçari. Desde o ano de 2006, utilizamos a Capoeira Regional do saudoso Mestre Bimba como forma de apresentar um novo viés a crianças e jovens daquela comunidade. O Crianças Cabeludas já dá sinais de muitos bons frutos, como a ida de alguns alunos para fora do país. Todavia, mais importante que qualquer possibilidade dessas crianças “viverem da capoeira” é o viverem de forma digna, justa e socialmente responsável. Isso, sem dúvida, é o que de melhor podemos ensiná-los.
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Lendo algumas matérias sobre outros esportes apoiados pela gestão pública municipal, não pude me furtar a questionar-me: por que a Capoeira ainda continua “debaixo do pé do boi”, em Camaçari? Ora, não nos venham falar em apoios esporádicos, verdadeiras migalhas dadas a uma arte-luta que representa tanto o nosso país. A Capoeira é o maior legado herdado dos acorrentados trazidos do além mar. A Capoeira é negra, criada pelos pobres, que a praticavam nas senzalas e matos rasteiros das fazendas dos senhores e sinhazinhas. Será essa a razão histórica para tanto desprezo? Quero crer que não. Todavia, conheço mestres consagrados no município que têm que, praticamente, passar sua cuia na SEDEL, ou na SECULT, para poder realizar seus eventos. Ontem mesmo, em visita a um deles, este me disse: “Crente, só consegui água mineral” – eu também! – bom, de sede não vão nos matar, rebati, num misto de sarcasmo e revolta!
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Nosso pequeno evento, realizado numa comunidade carente, repleta de problemas sociais e cuja Capoeira é a única fonte de lazer, esporte e disseminação da cultura popular brasileira, não teve o apoio do chefe do executivo e seus comandados, nem tão pouco da “casa do povo”. Estes fingem nada acontecer nas Mangabas, fingem não ver a molecada no meio do asfalto, se esquivam com seus jargões ultrapassados e hipócritas, batem em minhas costas e dizem: “que trabalho bonito”, mandam seus candidatos tentarem tirar proveito da moçada que “segue em frente e segura o rojão”1. Mas ano após ano, sentimos o gosto amargo do abandono e o sangue derramado pelas feridas abertas no asfalto quente. Todos sabem disso, todos mesmo, não nos digam que não sabiam.
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O Mestre Cabeludo sempre nos diz que Capoeira é resistência, que devemos lutar, protestar e nunca deixar de fazer acontecer o que acreditamos. Eis aqui, mais uma vez, o nosso protesto. Um protesto consciente, de quem nunca deixou se abater, de quem tem a Capoeira no peito e que realiza os sonhos na raça.
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Receberemos cerca de 30 estrangeiros em nosso humilde evento, e mais uma vez será difícil explicar como em seus países o governo, as empresas, a sociedade organizada e as escolas abrem suas portas para receber a Capoeira brasileira, mas, contraditoriamente aqui, onde ela foi concebida, esses atores nos relegam ao esquecimento, ou melhor, como disse ontem em outra visita a um antigo mestre camaçariense, nós só somos lembrados quando querem nos usar como “dançarinos” em seus circos políticos particulares.
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A Capoeira é cultura, ou é esporte? É SEDEL, ou é SECULT? Até quando essa discussão? Até quando as migalhas? Até quando o maciço apoio será para os “esportes de brancos” e importados?
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É preciso agir. Nós, capoeiristas de Camaçari já estamos saturados de discurso e fóruns que nada resolvem, só servem para dizer: “estamos elaborando políticas públicas para isso, ou para aquilo”. Ação já!
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Precisamos das escolas abertas, do apoio para os eventos, de centros especializados, de valorização dos mestres antigos, de empregabilidade para os professores dessa arte, enfim, há muitas coisas a serem feitas.
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Convocamos a todos os simpatizantes, alunos, instrutores, monitores, formados, professores, contra mestres e mestres camaçarienses a não se calarem, a exporem publicamente o seu repúdio a esta gestão medíocre que pouco ou nada fazem pela Capoeira e ainda querem nos usar como fantoches.
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Cansamos, senhores “dono do poder”, já está mais que na hora de vocês nos levarem a sério. Como diz o Mestre Otto (formado do Mestre Bimba): “o capoeirista pode até apanhar, mas jamais poderá deixar-se dominar”.
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Axé, paz e luz para todos!
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Salve,
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Formado Crente
crenteregional@gmail.com
www.portocamacari.blogspot.com
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(Caio Marcel Simões Souza, Formado Crente, é Administrador de Empresas, formado pela Faculdade Metropolitana de Camaçari. É formado em Capoeira Regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Atua profissionalmente como Analista Administrativo, é professor de curso técnico, em Camaçari; responsável e mantenedor do Projeto Social Crianças Cabeludas, no bairro do Parque das Mangabas, é escritor entusiasmado, além de desenvolver fortemente ações na área de cultura popular, onde quer que a estrada empoeirada o leve).
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1 Trecho de “E Vamos a Luta”, de Gonzaguinha.
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No próximo dia 29 de Agosto, o Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra estará realizando o IV Batizado e V Troca de Graduações no Projeto Social Crianças Cabeludas, na comunidade do Parque das Mangabas.
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Nosso projeto já é mais que conhecido em Camaçari. Desde o ano de 2006, utilizamos a Capoeira Regional do saudoso Mestre Bimba como forma de apresentar um novo viés a crianças e jovens daquela comunidade. O Crianças Cabeludas já dá sinais de muitos bons frutos, como a ida de alguns alunos para fora do país. Todavia, mais importante que qualquer possibilidade dessas crianças “viverem da capoeira” é o viverem de forma digna, justa e socialmente responsável. Isso, sem dúvida, é o que de melhor podemos ensiná-los.
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Lendo algumas matérias sobre outros esportes apoiados pela gestão pública municipal, não pude me furtar a questionar-me: por que a Capoeira ainda continua “debaixo do pé do boi”, em Camaçari? Ora, não nos venham falar em apoios esporádicos, verdadeiras migalhas dadas a uma arte-luta que representa tanto o nosso país. A Capoeira é o maior legado herdado dos acorrentados trazidos do além mar. A Capoeira é negra, criada pelos pobres, que a praticavam nas senzalas e matos rasteiros das fazendas dos senhores e sinhazinhas. Será essa a razão histórica para tanto desprezo? Quero crer que não. Todavia, conheço mestres consagrados no município que têm que, praticamente, passar sua cuia na SEDEL, ou na SECULT, para poder realizar seus eventos. Ontem mesmo, em visita a um deles, este me disse: “Crente, só consegui água mineral” – eu também! – bom, de sede não vão nos matar, rebati, num misto de sarcasmo e revolta!
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Nosso pequeno evento, realizado numa comunidade carente, repleta de problemas sociais e cuja Capoeira é a única fonte de lazer, esporte e disseminação da cultura popular brasileira, não teve o apoio do chefe do executivo e seus comandados, nem tão pouco da “casa do povo”. Estes fingem nada acontecer nas Mangabas, fingem não ver a molecada no meio do asfalto, se esquivam com seus jargões ultrapassados e hipócritas, batem em minhas costas e dizem: “que trabalho bonito”, mandam seus candidatos tentarem tirar proveito da moçada que “segue em frente e segura o rojão”1. Mas ano após ano, sentimos o gosto amargo do abandono e o sangue derramado pelas feridas abertas no asfalto quente. Todos sabem disso, todos mesmo, não nos digam que não sabiam.
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O Mestre Cabeludo sempre nos diz que Capoeira é resistência, que devemos lutar, protestar e nunca deixar de fazer acontecer o que acreditamos. Eis aqui, mais uma vez, o nosso protesto. Um protesto consciente, de quem nunca deixou se abater, de quem tem a Capoeira no peito e que realiza os sonhos na raça.
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Receberemos cerca de 30 estrangeiros em nosso humilde evento, e mais uma vez será difícil explicar como em seus países o governo, as empresas, a sociedade organizada e as escolas abrem suas portas para receber a Capoeira brasileira, mas, contraditoriamente aqui, onde ela foi concebida, esses atores nos relegam ao esquecimento, ou melhor, como disse ontem em outra visita a um antigo mestre camaçariense, nós só somos lembrados quando querem nos usar como “dançarinos” em seus circos políticos particulares.
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A Capoeira é cultura, ou é esporte? É SEDEL, ou é SECULT? Até quando essa discussão? Até quando as migalhas? Até quando o maciço apoio será para os “esportes de brancos” e importados?
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É preciso agir. Nós, capoeiristas de Camaçari já estamos saturados de discurso e fóruns que nada resolvem, só servem para dizer: “estamos elaborando políticas públicas para isso, ou para aquilo”. Ação já!
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Precisamos das escolas abertas, do apoio para os eventos, de centros especializados, de valorização dos mestres antigos, de empregabilidade para os professores dessa arte, enfim, há muitas coisas a serem feitas.
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Convocamos a todos os simpatizantes, alunos, instrutores, monitores, formados, professores, contra mestres e mestres camaçarienses a não se calarem, a exporem publicamente o seu repúdio a esta gestão medíocre que pouco ou nada fazem pela Capoeira e ainda querem nos usar como fantoches.
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Cansamos, senhores “dono do poder”, já está mais que na hora de vocês nos levarem a sério. Como diz o Mestre Otto (formado do Mestre Bimba): “o capoeirista pode até apanhar, mas jamais poderá deixar-se dominar”.
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Axé, paz e luz para todos!
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Salve,
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Formado Crente
crenteregional@gmail.com
www.portocamacari.blogspot.com
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(Caio Marcel Simões Souza, Formado Crente, é Administrador de Empresas, formado pela Faculdade Metropolitana de Camaçari. É formado em Capoeira Regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Atua profissionalmente como Analista Administrativo, é professor de curso técnico, em Camaçari; responsável e mantenedor do Projeto Social Crianças Cabeludas, no bairro do Parque das Mangabas, é escritor entusiasmado, além de desenvolver fortemente ações na área de cultura popular, onde quer que a estrada empoeirada o leve).
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1 Trecho de “E Vamos a Luta”, de Gonzaguinha.
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